quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A Fragilidade de Uma Vida

Após largar meu emprego público de sete anos, resolvi tirar umas férias de tudo aquilo referente a dedicar a minha vida para cuidar de outra. Nesse meio tempo fiz algum dinheiro para ajudar nas despesas da casa de outras formas que não envolviam o cuidar. O tempo passou e como o emprego que procuro fora da minha área de enfermagem não aparecia, resolvi voltar a cuidar de pessoas nos hospitais ou nas suas casas. Publiquei na internet o meu serviço de cuidador e logo apareceram oportunidades para voltar a ativa, fazendo aquilo que aprendi desde cedo: cuidar do próximo.


Aceitei um pedido de uma amiga para cuidar do pai que estava com câncer de próstata, ossos e no final descobriu-se metástase de pulmão também. Conheci o Sr. X no hospital, apresentando - se pouco abatido, apesar da doença que lhe molestava, mas comunicativo, preocupado comigo, se eu iria comer ou dormir, se eu estava bem.

Passei o dia com ele no hospital, e no final do dia ele foi liberado para voltar para casa. No dia seguinte comecei a cuidar dele em seu domicílio, com a ajuda de sua esposa e filhos que faziam revesamento para não deixá-lo sozinho quando meu horário terminava. No sexto dia de cuidado, o Sr X decidiu não lutar mais, e entregou-se a doença que aos poucos foi lhe tirando a vida. Hoje é o seu sepultamento.

Quando sua filha me ligou hoje cedo avisando sobre o ocorrido, fiquei pensando em quão frágil nossa vida é diante de tudo. Um homem que a uns dias atrás conversava comigo, brincava, comia e em menos de uma semana deixou esse mundo. Por mais que você se acostume ao longo do tempo a lidar com a doença e a morte, é  assustador estar cuidando de uma pessoa e por mais que você se esforce fazendo de tudo para amenizar o sofrimento alheio, a vida vai se esvaindo rapidamente pelo meio dos seus dedos e aí você percebe que por mais que você fizer, nada vai mudar o ciclo que a vida tem que seguir.

E você apenas observa o quanto tudo é rápido e tão frágil e que seus esforços são tão insignificantes por melhor que você queira fazer, que a vida é como um sopro, um sorriso ou uma lágrima, que de repente se acaba. E apesar de estarmos acostumados com o fato de que não somos eternos nessa terra, ainda assim ficamos pasmos quando vemos o último suspiro de vida em um corpo agora inerte.

E a cada vida que você se despede, entendemos o quanto somos pequenos diante de tudo...