Após largar meu emprego público de sete
anos, resolvi tirar umas férias de tudo aquilo referente a dedicar a minha vida
para cuidar de outra. Nesse meio tempo fiz algum dinheiro para ajudar nas
despesas da casa de outras formas que não envolviam o cuidar. O tempo passou e
como o emprego que procuro fora da minha área de enfermagem não aparecia,
resolvi voltar a cuidar de pessoas nos hospitais ou nas suas casas. Publiquei
na internet o meu serviço de cuidador e logo apareceram oportunidades para
voltar a ativa, fazendo aquilo que aprendi desde cedo: cuidar do próximo.
Aceitei um pedido de uma amiga para cuidar
do pai que estava com câncer de próstata, ossos e no final descobriu-se
metástase de pulmão também. Conheci o Sr. X no hospital, apresentando - se
pouco abatido, apesar da doença que lhe molestava, mas comunicativo, preocupado
comigo, se eu iria comer ou dormir, se eu estava bem.
Passei o dia com ele no hospital, e no
final do dia ele foi liberado para voltar para casa. No dia seguinte comecei a
cuidar dele em seu domicílio, com a ajuda de sua esposa e filhos que faziam
revesamento para não deixá-lo sozinho quando meu horário terminava. No sexto
dia de cuidado, o Sr X decidiu não lutar mais, e entregou-se a doença que aos
poucos foi lhe tirando a vida. Hoje é o seu sepultamento.
Quando sua filha me ligou hoje cedo
avisando sobre o ocorrido, fiquei pensando em quão frágil nossa vida é diante
de tudo. Um homem que a uns dias atrás conversava comigo, brincava, comia e
em menos de uma semana deixou esse mundo. Por mais que você se acostume ao longo
do tempo a lidar com a doença e a morte, é assustador estar cuidando de uma pessoa e por
mais que você se esforce fazendo de tudo para amenizar o sofrimento alheio, a
vida vai se esvaindo rapidamente pelo meio dos seus dedos e aí você percebe que
por mais que você fizer, nada vai mudar o ciclo que a vida tem que seguir.
E você apenas observa o quanto tudo é rápido e tão frágil e que seus esforços são tão insignificantes por melhor que você queira fazer, que a vida é como um sopro, um sorriso ou uma lágrima, que de repente se acaba. E apesar de estarmos acostumados com o fato de que não somos eternos nessa terra, ainda assim ficamos pasmos quando vemos o último suspiro de vida em um corpo agora inerte.
E a cada vida que você se despede, entendemos o quanto somos pequenos diante de tudo...
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ResponderExcluirQue lindo seu depoimento Flávia... Como a vida é leve, preciosa e frágil, e como o morrer nos faz pensar a importância dos momentos que temos aqui neste mundo e quantas coisas boas podemos fazer enquanto estamos aqui.
ResponderExcluirCuidar de doentes terminais é um trabalho lindo e corajoso... Que doente mais humano e sensível se preocupando, mesmo às portas da morte, com o bem estar de sua profissional da enfermagem... Isto é ser humano... Que ele descanse em paz!
E você, com certeza teve um ato de coragem em deixar uma função que embora segura e "confortável" não a fazia feliz... E outro mais corajoso ainda de cuidar daqueles que se preparam para deixar a vida e registrar suas impressões " A salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena" - nas palavras de Clarice Lispector
Obrigada Margot...fiquei feliz por você passar por aqui...
ResponderExcluirO Opa (assim eu o chamava carinhosamente) sempre se preocupou comigo durante todo o tempo em que estive com ele..tenho certeza absoluta que ele está em paz agora...
Beijão Querida!
Flá! Percebendo a fragilidade da nossa vida, temos que valorizar cada momento. Lindo seu depoimento! beijos amada
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