sábado, 21 de maio de 2011

November Rain

Em novembro de 2008, durante aquela enchente que devastou Santa Catarina, eu estava em um congresso de trauma em São Paulo. Pela televisão nós víamos imagens de SC embaixo d'água, mostrava principalmente Joinville e Blumenau. Nós lá longe, correndo de uma sala de conferência para outra, tentando nos interar das últimas novidades e tecnologias em traumas, nos esquecemos do que acontecia aqui na nossa terra. Na verdade nasci em São Paulo, mas como vim para cá muito nova (4 anos), me considero catarinense. Depois de quatro dias de conferência, de ter conhecido pessoas do mundo todo, escutado vários idiomas e de perceber que o Brasil está anos luz atrasado em matéria de traumas, arrumamos nossas malinhas e pé na estrada de volta ao nosso local de origem.


A viagem foi tranquila (nós estavamos em oito pessoas, quatro cada carro), até chegarmos em Joinville. E aí o pânico tomou conta. Nesse momento,  após ver a fila quilométrica de carros que estava parada a mais de seis horas, percebi que não chegaria em casa tão cedo. Então, como existem vários caminhos para chegar a Blumenau, resolvemos nos dividir, cada carro para um lado, e quem conseguisse achar algum caminho livre de água,  avisaria o outro por celular. Detalhe, o celular funcionava mal e porcamente. E foram horas de tentativas, de idas e voltas pois havia água por todos os lados,  até que alguém do outro carro conseguiu contato dizendo que tinham pego um "atalho" e sairam na serra de Massaranduba. Mudamos o destino e fomos atrás dos outros colegas. Por onde nós passamos não faço idéia até hoje, mas o pânico era total, todos mortos de fome, cansados e irritados. Sem energia elétrica pelo caminho e muita chuva. Conforme íamos descendo a serra, as barreiras caíam ao nosso lado batendo no carro e nesse momento comecei a  ficar cabreira. Medo. Tensão. Pânico. Pensei que jamais chegaria em casa. A colega que estava sentada no banco de trás comigo, começou chorar tamanho desespero. Após uma looooooonga descida, até que enfim chegamos na Itoupava Central, em Blumenau, onde havia uma base do Samu. Não sei quem estava mais cansados, nós ou o pessoal que estava de plantão a mais de dois dias, sem conseguir fazer a troca de turno. Estavam todos exaustos.


Dali em diante só conseguiria chegar em casa a nado, sendo assim, um dos colegas que estava de plantão  ofereceu sua casa (era o único refúgio que conseguiríamos chegar), para tomarmos um banho e descansar. O exército nos auxiliou muito para que fosse possível nos movimentarmos, oferecendo carona nos tanques e para os mais sortudos ( que não foi o meu caso), de helicóptero. Conseguimos chegar na casa do colega e não havia água para tomar banho. Resumindo: dormimos em dezoito pessoas em uma casa, sem tomar banho, praticamente sem comida e ainda os que estavam fardados tinham que trabalhar para socorrer os outros. Quando não aguentavam mais, emprestavam a farda para outro que continuava o trabalho. E assim passaram-se dois dias. Cada cidade que passávamos, a esperança de chegar em casa era mais real. Assim que consegui chegar na base do Samu em Timbó, me senti tão aliviada que mal acreditei que estava tão perto de casa. Pulei dentro do meu carro e fui voando para casa (na época morava em Rio dos Cedros).



A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa, foi abraçar minha mãe, tomar banho e ir dormir. Não trabalhei naquele dia (minha chefe me liberou para descansar). Foi um dos piores dias da minha vida. Mas passou,  e o que ficou de lição? Tantas coisas, mas,  a mais importante é como valorizamos as pessoas quando estamos longe ou correndo riscos.



Até mais!

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